Sidio Mugadza caiu na rede do "match-fixing"

A suspensão por 15 anos aplicada ao oficial moçambicano da FIFA e da CAF, Sidio José Mugadza, que também é funcionário da Federação Moçambicana de Futebol, está relacionada com um provável envolvimento na ampla rede de "match-fixing" (combinação de resultados) que tinha como principal responsável Wilson Raj Perumal, natural de Singapura, segundo apurou o LanceMZ junto de fontes próximas ao caso.

Por Alfredo Júnior 

A Comissão Independente de Ética da FIFA suspendeu a Sidio Mugadza após concluir que o mesmo foi considerado culpado numa investigação iniciada a 11 de Julho de 2018 e em função da violação do artigo 11 (referente ao suborno) do código de Ética do organismo máximo do futebol mundial, o que lhe impede de estar ligado ao futebol tanto ao nível internacional, assim como nacional.

Na verdade Sidio Mugadza caiu na ampla rede do "match-fixing" que foi investigada pela Interpol e pela FIFA, com grande enfoque para os escândalos de combinação de resultados que ocorreram no contintente asiático e que eram controlados pelo considerado barão deste crime, Wilson Raj Perumal, que acabou por ser detido em 2011. 

Da investigação feita, a Interpol e a FIFA descobriram a existência no telefone de Raj Perumal de contactos de oficiais federativos de 38 países e no laptop deste barão foram encontrados contactos de e-mails de elementos ligados à perto de 50 países membros da Federação Internacional de Futebol.

E foi no rastreio das comunicações feitas por Wilson Raj Perumal que foi detectado uma troca de correspondência efectuada no ano de 2008 com Sidio Mugadza. O moçambicano oficial da CAF e da FIFA trocou mensagens através de e-mail com o barão do "match-fixing" ou seus mandatários aquando do convite efectuado à selecção nacional de futebol na categoria de sub-20 para tomar parte num torneio Internacional que teve lugar na Malásia.

Segundo as fontes do LanceMZ, em Outubro de 2008 Moçambique fez parte desse torneio e esteve Integrado no mesmo grupo com o Vietname, Myanmar e Bangladesh. Os Mambinhas venceram o jogo de estreia por 1-0 diante da sua congénere do Bangladesh, com golo apontado por Francisco, que na altura jogava na Académica. 

Sidio Mugadza, beneficiando do facto de ser a pessoa que mais dominava a comunicação em língua inglesa, no seio da Federação Moçambicana de Futebol, trocou correspondência com os agentes que efectuaram o convite a Moçambique para tomar parte nesse evento. Num dos e-mails trocados, Mugadza foi aliciado para convencer aos Mambinhas Sub-20 para combinarem resultados dos seus jogos nesse torneio.

Na teia da rede de Raj Perumal 

Porém, e ao que LanceMZ tomou conhecimento, o oficial Moçambicano mostrou-se receoso, dando conta que seria difícil ou complicado convencer ao selecionador nacional a entrar no esquema do "match-fixing". Na altura, os Mambinhas Sub-20 eram orientados por Amade Chababe e nesse torneio, decorrido na Malásia, contaram com a presença de Mart Noiij que era selecionador da equipa principal de Moçambique.

Da correspondência em referência, não ficou claro se Sidio Mugadza terá recebido algum valor para a combinação de resultados, muito menos não se sabe se terá conseguido envolver a equipa de todos nós no esquema. Porém e apesar dessas dúvidas, a Comissão Independente de Ética da FIFA decidiu aplicar a pena pesada de suspensão a Sidio Mugadza devido ao facto deste não ter denunciado o aliciamento feito pela rede chefiada pelo barão do "match-fixing", Wilson Raj Perumal. Os juízes concluíram que Sidio Mugadza não agiu de acordo com o Código de Ética da FIFA que o obrigava a denunciar este tipo de atitude. 

Wilson Raj Perumal, como nos referimos acima, acabou por ser detido em 2011 e contou as autoridades policiais que esteve envolvido no "match-fixing" de entre 80 a 100 jogos referentes a várias competições internacionais, dentre as quais relacionadas com a qualificação para os Jogos Olímpicos, Mundial de Futebol Masculino e Feminino, Campeonato Africanos das Nações, CONCACAF Gold Cup, entre outras provas. 

Ao nível do continente africano há relatos do envolvimento de Raj Perumal com dirigentes ligados ao futebol da Zâmbia e Zimbabwe, entre outros países. Numa das ocasiões, um dos dirigentes do futebol do Zimbabwe chegou a recrutar jogadores de futebol de bairro e mandou-os a um torneio na Ásia em que estes envolveram-se na combinação de resultados que acabou por ser descoberta por Tery Steans investigador da FIFA para a área do "match-fixing". 

Esta semana o Comité Independente de Ética da FIFA suspendeu ao antigo dirigente da Federação Zambiana de Futebol, Boniface Mwamelo, que era vice-presidente e tesoureiro,  acusado de estar envolvido num caso de "Match-fixing" em jogos da seleção Sub-23 que tomou parte num torneio internacional em 2010, do qual recaem suspeitas de ter havido combinação de resultados orquestradas por Wilson Raj Perumal. 

Mwamelo afirmou à imprensa zambiana que vai recorrer da pena de suspensão de banimento de toda actividade ligada ao futebol e que iniciou em Outubro de 2017. À Sidio Mugadza também se reserva o direito de recorrer desta decisão. Recentemente, o antigo presidente da Federação Zambiana de Futebol, Kalusha Bwayla, conseguiu ver reduzida a pena de que tinha sido alvo e que foi aplicada pelo mesmo Comité Independente de Ética, o que abre esperanças ao oficial moçambicano que segundo apurou o LanceMZ está a preparar o seu recurso. (LanceMZ)